Valentino Rossi quase trocou o mundo do MotoGP pela Fórmula 1 – Como eram sérios os planos e por que razão acabou por se manter fiel às motos
Valentino Rossi, a lenda italiana das corridas de motos, é frequentemente considerado um dos maiores pilotos da história do desporto automóvel. Mas houve um momento na sua carreira em que a mudança do MotoGP para a Fórmula 1 era uma opção realista para o piloto de 45 anos.
Qual era realmente a probabilidade de o “Doutor” trocar o mundo das duas rodas pelo das quatro rodas? Nós vamos ao fundo da questão
Os testes de Fórmula 1 de Rossi e os seus antecedentes
No início dos anos 2000, no auge da sua carreira no MotoGP, Rossi começou a flertar seriamente com a Fórmula 1. Em 2004 e 2006, fez testes com a Ferrari, a equipa mais prestigiada da Fórmula 1.
Fez a sua estreia oficial na Fórmula 1 em 2004, na pista de testes da Ferrari em Fiorano. No seu primeiro dia de testes, Rossi estabeleceu um tempo pessoal de 59,2 segundos – apenas 1,5 segundos mais lento do que o tempo de referência estabelecido na altura por ninguém menos do que Michael Schumacher. Este facto causou alguma agitação.
No entanto, Rossi impressionou não só pela sua velocidade, mas também pela sua capacidade de adaptação a um conceito de veículo completamente novo. A Ferrari convidou-o então a participar em mais testes nos circuitos de Valência, Mugello e Jerez.
O teste de fevereiro de 2006 no Circuito Ricardo Tormo em Valência é particularmente digno de nota. Rossi impressionou mais uma vez: num dos dias de teste, conduziu um carro comparável da Ferrari apenas meio segundo mais lento do que os pilotos de Fórmula 1 consagrados Fernando Alonso e Michael Schumacher.
Luca di Montezemolo, na altura Presidente da Ferrari, elogiou Rossi: “O Valentino não é apenas um campeão em duas rodas, mas também tem uma sensação incrível com o carro. Ele tem um verdadeiro talento e poderia ser um grande piloto de Fórmula 1 se quisesse.”
A abordagem de Rossi à Fórmula 1 foi extremamente profissional. Os engenheiros relataram que o seu feedback técnico estava a um nível muito além das expectativas. Ele não só compreendia os detalhes técnicos, como era capaz de dar um feedback preciso que ajudava a equipa a otimizar a afinação.
Tudo isto alimentou a especulação de que a Ferrari o poderia considerar seriamente. Para além de di Montezemolo, o chefe de equipa Jean Todt também falou publicamente do talento de Rossi, elogiando a sua flexibilidade e capacidade de compreender o carro
Uma mudança do MotoGP para a Fórmula 1 não era apenas uma ideia de relações públicas na altura, mas uma possibilidade séria. A Ferrari alegadamente planeava utilizar Rossi como segundo piloto ao lado de Felipe Massa ou Kimi Räikkönen a partir de 2007.
No entanto, tal mudança significaria que Rossi deixaria o MotoGP, onde continuava a dominar e a estabelecer novos recordes na altura.
O próprio Rossi estava dividido. Numa entrevista à Gazzetta dello Sport, ele disse: “A Fórmula 1 sempre me fascinou. A velocidade, a tecnologia – é um universo completamente diferente. Mas também é um enorme desafio. É preciso dar tudo para ter sucesso”.
A Fórmula 1 teria sido um enorme desafio, especialmente porque Rossi teria de competir num ambiente completamente novo. Ele próprio disse em entrevistas que a ideia era tentadora, mas que temia fazer a mudança demasiado tarde na sua carreira para ser verdadeiramente bem sucedido.
A Fórmula 1 é conhecida pelo facto de os pilotos precisarem de anos para se habituarem às exigências dos carros. No entanto, na altura das suas considerações mais sérias, Rossi já tinha 20 e poucos anos. Para a Fórmula 1, que frequentemente promove talentos mais jovens, este teria sido um começo bastante tardio.
Porque é que a mudança não se concretizou
A ideia de investir vários anos para se tornar competitivo desmotivou Rossi. Ele também sabia que as expectativas seriam imensamente altas. Rossi explicou mais tarde que tinha sentido a pressão de ter de ser bem sucedido na Fórmula 1 imediatamente, o que teria diminuído a alegria da mudança.
No final, o italiano decidiu ficar no MotoGP. Uma das principais razões foi o seu amor duradouro pelas motos: “As motos são o meu mundo. Adoro a liberdade e a sensação que se tem ao conduzir. Teria sido difícil deixar isso para trás”, disse Rossi olhando para trás.
Outro fator foi a questão de saber se uma mudança seria sensata a longo prazo. Rossi tinha começado uma nova era com a Yamaha e voltou a ganhar títulos com ela depois de sair da Honda. Ele estava convencido de que poderia continuar a mostrar a sua melhor forma lá
Os seus fãs e patrocinadores estavam intimamente associados ao MotoGP e uma mudança poderia ter posto em causa o seu legado. Por outro lado, o próprio MotoGP beneficiou muito da presença de Rossi na altura. A sua influência era tão grande que a popularidade da série teria sofrido com a perda da sua pessoa.
A Ferrari também tinha reservas. Apesar de Rossi ter impressionado, acabaram por decidir concentrar-se em pilotos já estabelecidos. A Fórmula 1 era extremamente competitiva nesta época e o risco de levar Rossi ao topo era elevado.
Rossi: Não queria ser apenas um piloto de Fórmula 1
Valentino Rossi na Fórmula 1 continua a ser um dos cenários “e se?” mais fascinantes da história do desporto automóvel. Os seus testes com a Ferrari mostraram que ele tinha o talento para se manter na categoria rainha do desporto automóvel.
No entanto, Rossi acabou por decidir não fazer a mudança por razões racionais e emocionais. Em vez disso, continuou a dedicar-se ao MotoGP, onde fez história e assegurou o seu estatuto de ícone do desporto motorizado para sempre.
Como o próprio Rossi disse uma vez: “Eu poderia ter tentado, mas eu não queria apenas ser um piloto de Fórmula 1 – eu queria vencer. E talvez não houvesse tempo suficiente para isso”. Mesmo que a questão de como ele teria se saído na Fórmula 1 permaneça em aberto, seu legado no MotoGP é indelével